A efervescência cultural das décadas de 1970 e 1980 vista pela ótica de
um romance autobiográfico
As décadas de 1970 e de 1980 foram cruciais para o campo das
artes, sobretudo o musical. Muitas características da época se fizeram
presentes nas décadas seguintes, sendo marcantes até hoje. Muitos artistas
daquele período tornaram-se índices de uma geração e inspiração para as posteriores.
Música, poesia, pintura, literatura, fotografia, teatro, enfim, qualquer expressão
artística, misturava-se à tríade “sexo, drogas e rock n’ roll” e a Nova York. Berço
de toda essa efervescência cultural, a cidade tornou-se uma grande comunidade
de jovens idealistas, afoitos por mostrar ao mundo a sua arte e, por meio dela,
sua essência.
E foi para essa instigante Nova York que Patti Smith partiu,
no fim dos anos 1960. Aos vinte anos, a jovem sonhadora e intelectualizada partiu
de Nova Jersey, onde, até então, tinha vivido ao lado da família, e partiu para
a agitada nova York com apenas um intuito: viver de arte. Com um livro de
Arthur Rimbaud – seu escritor favorito e maior fonte de inspiração - na
mochila, a aspirante a poetisa chega à Big Apple com muitas expectativas em mente
e nenhum dinheiro no bolso. Dormir sob marquises e dividir refeições com
excêntricos moradores de rua foram alguns percalços vivenciados por Patti,
oriundos da falta de dinheiro, mas o desejo por encontrar sua identidade era
maior, e voltar para a previsível e entediante rotina que ela deixou na cidade
em que se criou nunca esteve em seus planos.
Tudo muda em sua vida quando a garota conhece Robert
Mapplethorpe. O atraente rapaz de cabelos cacheados e estilo extravagante se
tornaria o seu maior companheiro, com quem Patti compartilharia a cama, a
comida, o escasso dinheiro e também seus sonhos. Unidos pelo colar de pedras
roxas, amuleto secreto do casal, e pelo desejo de extrair da arte tudo o que
ela podia lhes proporcionar, o relacionamento dos dois foi muito além de um envolvimento
amoroso, mas a mais fiel cumplicidade, uma amizade terna em que ambos
prometeram cuidar um do outro, independentemente do que acontecesse dali em
diante.
Juntos, eles atravessaram épocas de transformações, tanto profissionais
quanto pessoais: dificuldade financeira, a descoberta da homossexualidade de
Robert, a estadia no hotel Chelsea, lendário reduto artístico da época, que
abrigou artistas como Janis Joplin e Jimi Hendrix, e a inserção na disputada
távola redonda do Max’s e no seleto grupo de Andy Warhol, o mecenas da pop art
na época... Todos estes eventos fizeram com que Patti e Robert se
transformassem em referências, cada um em seu segmento: ela, música e
literatura; ele, fotografia.
Robert, que se dedicava às artes plásticas através de seus
desenhos, colagens e instalações, aos poucos migra para a fotografia, segmento
em que se consagrou como um dos maiores nomes da época. Sua orientação sexual
reflete em sua obra e ele se especializa em fotos de nus, com referências
sadomasoquistas.
Já Patti se aventurou por mais segmentos e passeou pela
literatura, através de seus poemas, pelas artes visuais, quando se dedicava aos
desenhos junto a Robert, e teve até uma breve passagem pelo teatro. Mas foi na
música que a artista se firmou: musicou seus poemas, se uniu a uma banda de
rock, recebendo o posto de poetisa e precursora do punk.
Ainda que Patti e Robert tivessem seguido caminhos diferentes,
a promessa de presença e zelo feita um ao outro quando se conheceram, sempre
permaneceu. “Horses”, disco de Patti
lançado em 1975, considerado um dos mais influentes da história do Rock n’
Roll, teve em sua capa uma fotografia de Robert.
Através de uma narração memorialística que, por vezes,
assume um tom nostálgico, Patti cumpre a promessa feita a Robert, pouco antes
do fotógrafo sucumbir à AIDS, em 1989: escrever a história deles. O objetivo
inicial era contar uma história de amor incondicional, mas Patti acaba traçando
o retrato de uma geração, e a história dos aspirantes a artista plástico e
escritora passa a servir como pano de fundo para uma abordagem muito maior: o
contexto da contracultura americana, vigente nas décadas de 1970 e 1980, mas
que influencia e reverbera nos mais diversos campos artísticos até hoje.
Ao romancear sua história, Patti comprova que ela e Robert –
assim como tantos outros jovens cheios de ideais daquela geração – eram muito
mais que só garotos. Eram artistas. Apenas artistas.
Autor: Patti Smith
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 280Ano: 2010
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Obs.: o preço é o mesmo; a diferença vai ficar no frete e nas condições de pagamento, descontos de cartão da loja, etc.
Espero que o apreciem, assim como eu!
Um grande beijo!
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